Eduardo Castro - Correspondente da EBC na África
Dacar  (Senegal) – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou do Fórum  Social Mundial uma postura firme diante da posição dos países ricos em  relação à África. “Penso que o Fórum deveria tomar uma decisão: não é  possível que o mundo rico não assuma um compromisso com o Continente  Africano, exatamente no momento em que o preço dos alimentos sobe no  mundo inteiro. Não pensem que o G-20 tem sensibilidade para o problema  da fome. Só fomos chamados para reuniões com os países ricos quando eles  entraram em crise e precisavam do nosso apoio”, afirmou Lula.
Lula  ganhou aplausos dos representantes dos movimentos sociais que lotaram o  auditório, entre eles muitos brasileiros, ao dizer que acha que “não  faz sentido que FMI [Fundo Monetário Internacional] e Banco Mundial  imponham ajustes que inviabilizem políticas públicas de incentivo à  agricultura em países pobres”.
Também foi saudado ao afirmar que é  cada vez mais forte a consciência de que fracassou o chamado Consenso  de Washington (conjunto de medidas pactuadas em 1989 por organismos  financeiros multilaterais, como FMI e Banco Mundial, que serviu de base  para políticas de estabilização econômica de países em desenvolvimento).  “Quem, com arrogância, nos dava lições, não foi capaz de evitar a crise  nos seus próprios países. Felizmente não vigoram mais as teses do  Estado mínimo, sem presença reguladora. O mercado já não é mais a  panaceia”.
Lula completou dizendo que não se pode trocar o  neoliberalismo pelo “nacionalismo atrasado, opção da direita americana e  europeia, culpando o imigrante pela corrosão social”.
Lula  participou de uma mesa sobre o peso geopolítico da África, ao lado do  presidente de Senegal, Abdoulaye Wade. “O Brasil não tem pretensão de  ditar modelos para ninguém”. Mas, segundo ele, “nosso êxito pode ser um  estímulo para a construção de um caminho alternativo ao desenvolvimento  sustentável e igualidade social”.
“É hora de colocar o  desenvolvimento e a democracia no centro da agenda africana”, afirmou o  ex-presidente. “É urgente incorporar à cidadania milhões de africanos  pobres, o que será importante também na recuperação da economia  mundial”. A saída, segundo ele, é produzir alimentos. “Não há soberania  efetiva sem segurança alimentar”.
Lula disse que leva ao fórum a  mensagem de quem governou o país com a segunda maior comunidade negra do  mundo (80 milhões de pessoas), menor apenas que a da Nigéria. Repetiu o  pedido de desculpas feito quando da primeira visita ao Senegal, em  2005, por causa do processo de escravidão ocorrido no Brasil até o fim  do século 19. “A melhor maneira de reparar é lutar para fazer desse  Continente um dos mais prósperos e justos do século 21”.
Na  sequência, o presidente do Senegal, Abdoulaye Wade, afirmou ter  “profundos desacordos” com os participantes do fórum porque é “um  liberal, partidário da economia de mercado, e isso diz tudo".  Entretanto, afirmou, o Fórum Social é importante porque “o mundo espera  pela ideia que o salvará do caos”.
Presidente desde 2000, Wade afirmou que o Senegal melhorou muito desde então. “A renda per capita  era de menos de U$ 1,5 mil em 1999. Hoje é de U$1,34 mil, duas vezes e  meia o limite da pobreza”. O país também é autossuficiente na produção  de alimentos.
“A aspiração à mudança é fundamental. E hoje a  África está numa encruzilhada. A imagem é de continente pobre, mas é  preciso corrigir essa ideia. Ela não é pobre - foi empobrecida”,  sentenciou o presidente do Senegal. Wade disse que apoia a proposta de  taxação do fluxo de capitais em 20%, o que geraria recursos para  combater a pobreza. E defendeu que a África tenha um assento com direito  a veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU). “70% dos temas  tratados [no conselho] são relativos à África”, disse o presidente  senegalês.
Edição: Vinicius Doria
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