quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Justiça ainda que tardia

Ainda que tenha demorado 34 anos para o cineasta e diplomata Jom Tob Azulay ser reintegrado aos quadros do Itamaraty, é gratificante ler a notícia de que ele, aos 70 anos, está de volta à chancelaria como conselheiro do quadro especial e já com posto designado - Nova Déli, na Índia.

Azulay foi afastado do Ministério das Relações Exteriores em 1976, por perseguição política do regime militar. Em agosto do ano passado, a Comissão de Anistia o anistiou e aprovou seu retorno ao Itamaraty. Ele assume seu novo posto diplomático na Índia no final deste mês.

O cineasta e diplomata foi cônsul do Brasil em Los Angeles no início dos anos 1970, quando divulgou nos EUA o documentário "Brazil: a report on torture" ("Brasil, o relato de uma tortura"), com depoimentos de ex-presos políticos brasileiros, na época, exilados no Chile.

O documentário, do cineasta americano Haskel Wexler, foi feito com parte do grupo de ativistas da luta armada trocado pelo embaixador suíço Giovanni Enrico Bucher, sequestrado em 1971. Os militantes denunciaram a tortura encenando no filme práticas como pau de arara, choque elétrico, espancamento e afogamento.

Azulay exibia o filme para brasileiros que viviam ou passavam pelos EUA - em uma das sessões mostrou-o a Tom Jobim e a Elis Regina, que estavam em Los Angeles para gravar um disco. "É inacreditável que até hoje esse filme seja desconhecido no Brasil. Só há uma explicação: a sociedade reprime e joga véu de esquecimento sobre a tortura" lamentou Azulay à imprensa ontem. A única vez que o filme foi exibido no Brasil foi no ano passado, num evento na Comissão de Anistia. 

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